Você sentado está bem, mas percebe que ao se levantar e a andar vai começando uma sensação esquisita na perna. Você continua a andar e suas pernas começam a falhar, sabe que se continuar vai acabar ficando fraco e cair.
Você se senta, os sintomas melhoram, sente que está bem novamente e tenta se levantar. Anda mais alguns metros e a sensação de fraqueza volta.
Isso pode ser um sintoma conhecido como claudicação neurogênica.
Mas por que isso ocorre?
Em primeiro lugar temos que entender que toda a inervação das nossas pernas passa por um pequeno orifício dentro da coluna, o canal vertebral, e que esses nervos são responsáveis por mandar as pernas mexerem, e trazer a informação de sensibilidade.
Quando envelhecemos é natural que ocorram alterações na nossa coluna em que ossos e ligamentos em uma tentativa de ficarem mais fortes acabam crescendo, como os músculos após serem muito exercitados, porém se esses ossos crescem para dentro da coluna, onde passam os nervos que vão para as pernas, estes podem ficar comprimidos e dar sintomas de mal funcionamento, como dor, queimação e fraqueza em uma ou nas duas pernas ao caminhar.
Essa doença da coluna tem algumas particularidades que devem ser ressaltadas:
Primeiro, ela acomete basicamente idosos. Por ser uma doença lentamente progressiva que leva décadas para se estabelecer, não costuma aparecer em pessoas mais jovens. Geralmente a pessoa já apresentou episódios de dores nas costas algumas vezes na vida que melhoraram espontaneamente, mas agora está diferente, a dor na lombar ainda existe, mas não é o que mais incomoda. A sensação de peso nas pernas e dificuldade para andar são os sintomas que mais costumam atrapalhar a qualidade de vida.
Em segundo lugar, diferente de algumas doenças da coluna que em sua maioria vão melhorar espontaneamente, como hérnia de disco, a estenose do canal vertebral tente a ser progressiva, ou seja, a pessoa vai piorando com o tempo. Se antes conseguia andar 500 metros sem sentir os sintomas, passa a conseguir andar 200, 100, 50, 10 metros, até a fase mais avançada que só ao ficar em pé a perna já começa a falhar e não obedece.
Isso ocorre pois com o passar do tempo o espaço para os nervos fica cada vez mais estreito, e quando se acrescenta o peso do corpo ou se estica o corpo para trás a tendência é que estreite ainda mais.
E ao contrário de esticar o corpo que tende a piorar, dobrar o corpo para frente tende a melhorar os sintomas. Já reparou que muitos idosos tendem a andar com o corpo deslocado para frente? Uma das causas é a estenose do canal vertebral. Os pacientes se sentem melhor ao empurrar um carrinho de supermercado, por exemplo, pois nessa posição os nervos para as pernas são menos pinçados.
Andar nessa posição curvada para frente é tão comum que muitas pessoas podem considerar que é natural do envelhecimento, mas na verdade é sinal de uma doença que está trazendo grande sofrimento para essas pessoas.
E o que pode ser feito para melhorar essa doença?
Em primeiro lugar é preciso passar por consulta com médico especializado em tratamentos de doenças da coluna, determinar o nível de gravidade e acometimento dos nervos.
Nos casos leves será recomendado tratamento fisioterápico com objetivo de correção postural e fortalecimento de musculatura lombar para estabilização dos sintomas, além de medicações analgésicas e para os nervos.
Já para casos moderados e graves, o tratamento cirúrgico é o indicado.
E sempre que pensamos em cirurgia de coluna é normal que apareçam medos, ansiedade, opiniões de pessoas próximas que querem ajudar, mas podem acabar atrapalhando por desconhecimento de como é o processo.
O objetivo do tratamento cirúrgico é a descompressão dos nervos no interior da coluna, e existem dezenas de formas de se realizar isso.
Classicamente, é feito um grande corte no meio das costas, separada a musculatura lombar para acesso à coluna e retirada da parte de trás da coluna (lâminas), associado ou não a parafusos para fixação da coluna no local. Esse procedimento é chamado laminectomia (retirada das lâminas).
O resultado da laminectomia é muito bom para melhora dos sintomas da estenose do canal vertebral, mas podem ocorrer complicações devido ao tamanho da cirurgia, e a recuperação pode ser dolorosa devido à abertura grande da musculatura e há quantidade significativa de perda sanguínea.
Acrescentando a isso, o idoso já costuma ser frágil e ter comorbidades, o que aumenta o risco de complicações, que é o que essa cirurgia tende a gerar tanto medo nas pessoas.
Felizmente, houve avanço tecnológico considerável no tratamento dessa doença com o advento da cirurgia endoscópica de coluna.
Na descompressão endoscópica de estenose vertebral, o objetivo é o mesmo, ampliar o diâmetro ósseo do canal vertebral com objetivo de descompressão de nervos e melhora de sintomas em pernas. A maneira que é feita essa descompressão que é o grande diferencial. Na cirurgia endoscópica é realizada um pequeno corte de menos de 1cm na parte posterior das costas. A musculatura é atravessada por um aparelho cirúrgico moderno chamado endoscópio de coluna, sem remoção muscular e com mínima lesão, e através de câmera de alta definição é visto o interior da coluna.
O cirurgião então com materiais específicos e delicados, retira o excesso de osso e ligamentos que estão comprimindo os nervos, e não há necessidade de ressecção excessiva que implica na utilização de parafusos.
Como resultado de uma menor agressão cirúrgica, o sangramento é significativamente menor, o período de internação também muito reduzido, com a maioria das altas no dia seguinte ao procedimento, e a estadia em UTI (unidade de tratamento intensivo) não é necessária. Isso permite que pacientes idosos e com comorbidades possam ser submetidos ao procedimento com muita segurança, e restaura substancialmente sua qualidade de vida e independência.
Lembre-se, antes de qualquer indicação de tratamento, seja cirúrgico ou não, é fundamental ser avaliado e a partir daí ser realizado o plano para melhora dos sintomas e qualidade de vida de forma individual.
O Dr. Tácito Mourão é um dos pioneiros realização dessa técnica no Brasil, realizou seu treinamento em um dos mais importantes centros de cirurgia endoscópica de coluna do mundo em Seul na Coréia do Sul em 2019, e desde então já realizou mais de 400 cirurgias endoscópicas com ótimos resultados, além de atuar no treinamento de outros cirurgiões para que possam reproduzir a técnica.